A conservação da biodiversidade é um dos temas mais abordados na educação ambiental. Porém, muitas vezes o foco das ações educativas são os conhecimentos científicos sobre os seres vivos, suas características, seus comportamentos, e suas relações ecológicas.
Todas essas informações são interessantes e importantes para processos educativos. Mas é bom lembrar que precisamos equilibrar os conteúdos, inserindo também as dimensões dos valores e da participação. Uma das maneiras de trabalhar com a dimensão da participação é mostrar para as pessoas como elas podem contribuir com a causa ambiental. No caso aqui, com a conservação da biodiversidade.
Para podermos apresentar essas possibilidades de ações para nosso público, também precisarmos ter clareza sobre quais são essas ações. E nem sempre elas são óbvias quando pensamos em biodiversidade. Então, nossa proposta para este FubáZINE é fazermos esse exercício aqui, juntas e juntos.
1. Consumir de forma mais sustentável
Às vezes nos esquecemos de que o que compramos também pode trazer benefícios ou prejuízos para a biodiversidade. Quando evitamos materiais descartáveis e reutilizamos embalagens, reduzimos o risco de plásticos sujarem os rios e mares e prejudicarem os animais que vivem ali. Quando escolhemos comprar alimentos orgânicos, ajudamos a diminuir o veneno nos ambientes rurais e favorecemos a agrobiodiversidade.
Existem ainda os produtos de limpeza mais naturais, objetos feitos de materiais biodegradáveis, roupas feitas com tecidos naturais. E também marcas que fazem doações a projetos de conservação. Ou seja, nossas escolhas cotidianas podem ajudar a conservar a biodiversidade.
2. Evitar a compra de animais silvestres para não incentivar o tráfico de animais
Uma das ações óbvias em relação a isso é não comprar animais silvestres ilegais ou sem origem conhecida. Porém, podemos ir um pouco além. Eticamente ter um animal silvestre como bicho de estimação pode ser algo questionável, já que muitas vezes esses bichos sofrem bastante fora do seu habitat natural. Além disso, há casos em que criadouros legalizados recebem animais do tráfego e vendem como se tivessem nascidos em cativeiro.
Outra postura interessante é evitar divulgar imagens do contato direto de humanos com animais silvestres, mesmo que sejam imagens suas em ambiente de trabalho. Embora sejam lindas e inspiradoras, elas podem incentivar outras pessoas a querer comprar um animal silvestre para ter como animal de estimação. Já tinha pensado nisso?
3. Divulgar, fazer doações ou oferecer trabalho voluntário para projetos de conservação
Existem muitos projetos de conservação sérios e com equipes que se dedicam diariamente a pesquisas, manejo, educação ambiental, recuperação de áreas degradadas, valorização de comunidades locais, etc. Então, uma ação que pode ajudar a nossa biodiversidade é conhecer esses projetos e incentivá-los. Pode ser por meio da divulgação das suas ações, de doações ou trabalho voluntário.
Como educadoras e educadores, apresentar esses projetos para o público pode ajudar as pessoas a se engajarem nessa causa mais de perto.
4. Conhecer e valorizar a biodiversidade local e a biodiversidade brasileira
Quem trabalha nessa área sabe que o leão e a girafa são muito mais conhecidos do que o macuco ou o cachorro-vinagre. Conhecer o que está mais perto de nós ajuda a entendermos que nossas ações fazem diferença para esses seres. Participar de grupos e projetos locais de mutirões de limpeza, observação de aves, caminhadas na natureza, plantios em áreas degradadas, etc. podem ser boas oportunidades para o contato direto com a biodiversidade local.
Nosso papel como educadoras e educadores é apresentar para as pessoas toda essa riqueza que temos, muitas vezes, tão perto. Mostrar para as pessoas que existem grupos já organizados que realizam atividades contemplativas, educativas e de mobilização pela causa ambiental também pode incentivar a multiplicação desse conhecimento para que cada vez mais gente valorize a biodiversidade brasileira.
5. Acompanhar movimentações políticas sobre o tema. Posicionar-se sobre elas e mobilizar-se.
Nem sempre essas são atitudes agradáveis. Principalmente no momento político que estamos vivendo. Mas o fato é que as ações das pessoas que ocupam cargos de poder têm uma influência enorme na conservação. Cada pessoa poderá encontrar o seu caminho para participar politicamente da forma que achar mais adequado.
E, nosso papel como educadoras e educadores é guiar as pessoas nesse processo. Uma das formas de fazer isso é compartilhando nossas próprias experiências, visões políticas e nossas ações nesse sentido, sem tentar impor nossas ideias, mas sempre buscando o diálogo.
Cada uma dessas possibilidades que citamos aqui pode ser desdobrada em diversas ações mais específicas. E ainda existem muitas outras atitudes que podemos adotar. Perceber que nossas escolhas e comportamentos cotidianos influenciam a biodiversidade pode ser surpreendente. Muitas pessoas não se dão conta disso.
Mas é preciso tomar cuidado para que essa responsabilidade possa ser assumida sem se tornar um fardo. Cuidar da vida no planeta pode ser leve e prazeroso, se as mudanças forem incorporadas aos poucos, a partir das possibilidades de cada pessoa. Por onde você pode começar? Ou continuar?