Sabe aquela placa de “Não pise na grama” que dá uma vontade danada de desobedecer? Pois é! Grande parte das pessoas tem uma tendência a não querer seguir uma regra que é imposta sem explicação, sem sentido. Principalmente nós, educadoras e educadores ambientais, que estamos acostumadas e acostumados a desenvolver o pensamento crítico, a não aceitar qualquer coisa porque simplesmente “é assim que funciona o mundo”. Então, quando nós estivermos no papel de definir e apresentar regras para nosso público, nada mais coerente do que considerarmos este e outros princípios da educação ambiental. Mas, às vezes, as regras acabam sendo elaboradas no piloto automático e nem dos damos conta da nossa incoerência nesse aspecto. As regras são importantes para organizar uma atividade educativa, para manter um espaço adequado, para favorecer o diálogo... Então, elas geralmente fazem parte de uma ação de educação ambiental. Por isso, vamos compartilhar de que forma temos feito isso aqui na Fubá em busca de aplicar na prática o nosso discurso.
Em uma atividade educativa em que há interação direta com o público o ideal é que essas regras sejam definidas em conjunto. Você como educadora ou educador pode começar listando as regras que considera importantes. E depois, pode apresentá-las para o grupo dialogar sobre elas e definir quais fazem sentido e devem ser aplicadas naquele momento. Para fazer isso, não basta apenas apresentar uma lista do que deve e o que não se deve fazer. O diálogo verdadeiro acontece com base em argumentos. Então, é preciso pensar na justificativa de cada regra. Por que ela existe? Por que ela é importante? Quais as consequências de segui-las ou não segui-las? Assim, apresentando explicações sobre cada regra, fica mais fácil do grupo compreender seus objetivos e chegar a um acordo sobre como elas devem funcionar durante a prática educativa. Esse processo é muito mais fácil de ser realizado em projetos de longo prazo, quando há tempo suficiente em interação com o público. Mas, infelizmente, essa não é a realidade em muitas ações de educação ambiental. Em atividades curtas ou em peças de comunicação como placas, posts em redes sociais ou em sites e aplicativos não vamos conseguir acordar as regras com o público. Mas podemos (e devemos) apresentar os argumentos que justificam as regras ao invés de despejar uma lista de comportamentos desejados e não desejados sem maiores explicações. Lembra que a gente gosta de quebrar regras sem sentido? No nosso app BoRa há uma seção que apresenta as regras de uso do espaço para o qual o aplicativo foi desenvolvido. Nessa seção temos o desafio de apresentar as regras em um texto bem curto de forma não impositiva e inclusiva. Isso exige certa dedicação. O que fazemos é:
1. Listar as regras do local; 2. Analisar porque elas são importantes e quais as consequências em não cumpri-las; 3. Escrever um texto curto que apresente a regra e o argumento para sua existência; 4. Ler e reler e revisar o texto várias vezes até chegar em um bom equilíbrio entre tamanho e argumentação; 5. Elaborar uma ilustração que represente bem aquela regra para ajudar o entendimento das pessoas que têm dificuldade de leitura (mas isso acaba sendo bom para todas as pessoas); 6. Escrever a descrição da imagem que ilustra a regra (que fica acessível pelo recurso de leitor de tela, usado por pessoas com deficiência visual); 7. Traduzir o texto para Libras (para tornar acessível às pessoas surdas).
Abaixo estão alguns exemplos das nossas telas na seção Prepare-se do app BoRa:
Deu pra perceber que definir e apresentar regras de forma coerente com os princípios da educação ambiental não pode ser feito no piloto automático. Essa é uma parte importante da interação educativa que temos com o nosso público e, dependendo da situação, pode fazer toda a diferença para o bom andamento da atividade. Resumindo, podemos dizer que o passo mais importante para definir e apresentar uma regra em processos de educação ambiental é refletir sobre o seu sentido, sobre a real necessidade de sua aplicação naquele contexto. Depois, é preciso pensar na linguagem que será usada para apresenta-la de forma que seja argumentativa e não impositiva. E por fim, para torna-la mais inclusiva, considerar quais recursos estão disponíveis para tornar este conteúdo acessível para a maior diversidade de pessoas possível. E aí, você já tinha pensado na maneira que define e apresenta regras para o seu público? Dá pra melhorar esse processo na sua prática educativa? Esperamos que esse conteúdo tenha ajudado você nessa tarefa que parece banal, mas não é! :-)